Boletim da Copaaergs aponta outono como período de transição entre a estiagem e retorno das chuvas
Trimestre será marcado pelo enfraquecimento do fenômeno La Niña e a transição para um período de normalidade climática
Publicação:

Chuvas entre a normalidade e ligeiramente acima da média devem marcar os próximos meses no Rio Grande do Sul, com maiores volumes de chuvas principalmente entre maio e junho. Os dados foram divulgados no Boletim de Prognóstico Climático para o trimestre Abril-Maio-Junho de 2025 realizado pelo Conselho Permanente de Agrometeorologia Aplicada do Estado do Rio Grande do Sul (Copaaergs), coordenado pela Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi). As previsões apresentadas pelo boletim são baseadas no modelo estatístico do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
O enfraquecimento do fenômeno La Niña, e a transição para um período de normalidade climática durante o trimestre abril-maio-junho, com probabilidade superior a 70% e persistência de condições neutras durante o inverno 2025, indicam a retomada das chuvas mais frequentes e o fim da estiagem ao longo do outono-inverno deste ano. No mês de abril ainda deve predominar irregularidade de chuvas, podendo os maiores índices pluviométricos ocorrerem do centro para o norte do estado, enquanto no sul podem ser registrados desvios negativos, ou seja, chuvas abaixo da média.
De acordo com a doutora em agrometeorologia e coordenadora da Copaaergs, Loana Cardoso, a normalização das chuvas ainda não deve ocorrer em abril. “As chuvas retornam em maio e junho e inicia o período de reposição de água no solo e mananciais”, afirma.
As temperaturas devem ficar um pouco acima da média, especialmente mais ao norte do estado, enquanto devem ficar próximas da média mais ao sul, nas regiões de fronteira. Espera-se contraste térmico em função da massa de ar bem mais quente que deve predominar no Brasil Central e as massas de ar de origem polar que vêm do sul do Continente.
Eventos como tempestades, rajadas de vento forte e queda de granizo podem ocorrer no estado, em função dos ciclones extratropicais e de áreas de instabilidade que se formam entre a Argentina, Uruguai e Paraguai, fortalecidos pelo contraste térmico que é observado na região do rio da Prata, quente próximo à costa do RS e frio ao sul da Costa da Província de Buenos Aires.
As principais recomendações técnicas para o período outono/inverno, quando a demanda evaporativa da atmosfera é menor, se referem ao momento para buscar investir em sistemas de irrigação e especialmente no armazenamento de água. Além disso, é o momento de estabelecer o manejo outonal como estratégia de manutenção de cobertura de solo, visando aumento de matéria seca, melhoria de qualidade e estrutura dos solos, aumento da capacidade de armazenamento de água no solo, utilizando materiais de outono-inverno anuais ou perenes.
O boletim do Copaaergs é elaborado a cada três meses por especialistas em Agrometeorologia de 16 entidades estaduais e federais ligadas à agricultura ou ao clima. O documento também lista uma série de orientações técnicas para as culturas do período.
Confira as orientações técnicas específicas para diferentes culturas.
-
Colher e armazenar o grão assim que atingir a maturação (ponto de colheita);
-
Utilizar estratégias para manter a cobertura dos solos.
-
Planejamento das ações para instalação das culturas de inverno;
-
Escalonar a época de semeadura dentro do período indicado pelo zoneamento agrícola;
-
Nos cereais, utilizar, preferencialmente, cultivares resistentes a doenças;
-
Fazer o planejamento de proteção de plantas dando atenção especial a Giberela;
-
Evitar semeaduras em solos excessivamente úmidos e com histórico de vírus do Mosaico dos cereais.
-
Em função do aumento da frequência de chuvas típico do outono, atentar para realizar a colheita quando atingir o ponto ideal;
-
Antecipar a adequação das áreas destinadas à lavoura para a próxima safra, principalmente as atividades de preparo e sistematização do solo e drenagem, para possibilitar a semeadura na época recomendada;
-
Nas regiões onde os reservatórios estão com níveis baixos devido ao uso da água para irrigação das lavouras, e que o prognóstico para o próximo trimestre (abril, maio e junho) indica tendência de chuvas ligeiramente acima da média, recomenda-se que os produtores invistam na captação e armazenamento de água para a próxima safra.
-
Implantar ou manter a cobertura vegetal nos pomares, visando a proteção e retenção de água no solo;
-
Evitar o excesso de adubação orgânica em plantas de cobertura para que não ocorra estímulo a brotações antecipadas das frutíferas;
-
Na execução de manejo de pré-poda ou podas de limpeza atenção ao uso de produtos fitossanitários para prevenir doenças fúngicas de madeira, que podem ser favorecidas pelas temperaturas e umidade do ar mais elevadas prevista para o período;
-
Devido ao prognóstico de temperaturas médias acima da normal, atentar para o monitoramento do acúmulo de horas de frio no período visando o correto manejo de quebra de dormência para o próximo ciclo, em especial para variedades com menor exigência em frio.
-
Embora com prognóstico de precipitação acima da média no trimestre ainda dar atenção quanto à necessidade de irrigação em alguns momentos, que deve, preferencialmente, ser realizada via sistema de gotejamento, que apresenta melhor eficiência de uso da água;
-
Dar ênfase ao monitoramento de doenças, principalmente daquelas favorecidas pelo molhamento da parte aérea ou excesso de umidade no ar ou no solo;
-
Realizar o manejo de abertura e fechamento de ambientes protegidos para a manutenção das condições térmicas e de umidade do ar.
-
Realizar a semeadura de forrageiras de inverno de ciclo longo, anuais ou perenes, o mais cedo possível, havendo condições de umidade do solo, aproveitando a maior disponibilidade de radiação solar do início do outono;
-
Reduzir a carga animal em pastagens naturais, mantendo uma disponibilidade forrageira de no mínimo 8%;
-
Diferir potreiros de campo nativo melhorado com sobressemeadura de espécies hibernais para permitir o reestabelecimento dessas espécies e acumular forragem para o período hibernal;
-
Utilizar sistemas sustentáveis como a Integração Lavoura-Pecuária para novilhos em terminação, visando melhorar a produtividade do rebanho;
-
Embora o período seja caracterizado por temperaturas do ar mais amenas que as registradas no verão, o produtor deve ficar atento ao prognóstico de temperaturas elevadas durante o trimestre e, consequente, possibilidade de estresse térmico imposto aos animais, principalmente para vacas de alta produção de leite.