Tempos difíceis para quem sobrevive da hortifruticultura
Produtores que comercializam na Ceasa estão apreensivos em relação ao futuro, por conta das perdas geradas pela estiagem
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A história tem o mesmo enredo, mas personagens e cenários diferentes. Agricultores de várias regiões do Estado estão preocupados com os prejuízos decorrentes de uma combinação fatal para a agricultura: onda de calor prolongada e baixo volume de chuvas. Em alguns casos, a perda nas lavouras chegou a 70%. Em função disso, alguns hortifrútis tiveram seus preços majorados, partindo de uma regra simples de mercado: mais produtos, preços baixos; menos produtos, preços altos.
Para evitar que ocorra a falta de hortifrútis nos próximos meses, permissionários das Centrais de Abastecimento do Rio Grande do Sul (Ceasa) têm adotado estratégias que viabilizem a produção de culturas que ainda têm perspectiva de colheita. Parte deles, no entanto, já decidiu evitar novos plantios até que as condições climáticas se mostrem mais favoráveis.
Produtora de Nova Santa Rita, a família Viegas Martins tomou uma decisão. A partir de agora, só planta culturas como pepinos e moranga cabotiá em áreas muito próximas ao açude existente na propriedade. "Na parte baixa tem mais umidade", explica Juliano Martins, que, junto ao pai e a irmã, vende a produção de melão gaúcho, moranga, pepino, berinjela, repolho, couve-flor e brócolis que não foi afetada pelo forte calor.
Menos sorte teve o produtor Itamar Oss Emmer de Caxias do Sul. Depois de perder parte considerável da plantação de pêssegos e ameixas destruída pela ação do granizo, no final da primavera, seus pomares sofrem agora os efeitos da estiagem prolongada. "Perdi de 60% a 70% do plantio. Além de finas, as frutas ficaram desnutridas. Não resistem nem na câmara fria", declarou.
Agricultora em Venâncio Aires, Clair Rodrigues da Silva reclama que o aumento do preço dos insumos e das sementes é outro motivo para evitar a retomada do plantio. Da lavoura ela trouxe aipins, morangas cabotiás, abóboras e o pouco que salvou da primeira safra de milho. "A nossa perda foi de 50%, mas tem gente que não colheu nada. Nesta época, a lavoura rendia uns 400 sacos de moranga. Com esta seca deu menos de 200. Do jeito que está não sei se vamos ter o que vender", desabafou.
Outro permissionário da Serra, Valmir Pezzi também resolveu deixar de plantar, apesar de ter fontes de água na lavoura de 10 hectares que mantém em Caxias do Sul. "Vou tentar salvar o que já foi plantado e parar por causa da falta de chuvas e por não termos condições de irrigar. Tenho três açudes, mas estão quase secos", explicou.
Agricultora do município de Feliz, Jussara Rambo é taxativa: "No momento não estamos plantando nada. A gente molhava, mas o calor era tanto que as folhas das verduras queimavam. Pepino e morango só na estufa". Na lavoura de 3,5 hectares, Jussara também planta repolho, couve-flor, tomate-cereja, quiabo e brócolis. A propriedade tem poço artesiano e três açudes no terreno em declive, interligados por canos que levam água de uma represa para outra. Mas com o volume de água baixando em ritmo acelerado, a esperança de dias melhores vai indo embora também.
Ex-produtor e atual presidente da Ceasa, Ailton dos Santos Machado analisa a situação e se solidariza com os permissionários. "Tenho conversado muito com os produtores, o cenário é desolador. As perspectivas de melhoras a curto prazo não existem. Ao longo dos 42 anos em que fui produtor passei diversas vezes por situações semelhantes. Quando somos assolados por eventos desta natureza, temos a sensação, no início, de que é algo passageiro. Porém, se as dificuldades persistem por alguns meses, parece uma eternidade".