Reunião da Câmara do Milho avalia safra, abastecimento e importação do grão
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A Câmara Setorial do Milho da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr) reuniu-se nesta segunda-feira (13/6) para avaliar, entre outros assuntos, a safra, o abastecimento e a importação do grão. Na ocasião, tomou posse o novo coordenador da Câmara, indicado pela Farsul, o produtor rural de Carazinho e engenheiro agrônomo Paulo Vargas. Os trabalhos foram conduzidos pelo assessor técnico Valdomiro Haas; e o secretário adjunto, Rodrigo Rizzo, participou da abertura, representando o secretário Domingos Velho Lopes.
O diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos (Sips), Rogério Kerber, fez um balanço sobre a produção, a oferta e a demanda de milho no Rio Grande do Sul, tomando como base os anos de 2020, 2021 e projetando para 2022. “Obtivemos junto à Secretaria da Fazenda do Estado (Sefaz), dados reais com relação à aquisição de milho em outros estados do Brasil, tanto a quantidade, quanto o valor, e também tivemos informações sobre a saída de milho para outras unidades da Federação, especialmente Santa Catarina, onde tem muitas agroindústrias produtoras de proteína animal”, informou. “Juntando com dados da Emater/RS-Ascar, Fecoagro e Conab, montamos um balanço de produção, demanda e exportação do grão”.
Conforme Kerber, em 2020, o Rio Grande do Sul importou, ou adquiriu de outros estados, pouco mais de 2,6 milhões de toneladas de milho. Em 2021, foram 2,4 milhões de toneladas. “Essa redução tem uma justificativa: é que 2021 foi um ano em que muito trigo foi destinado à produção de rações, tanto de aves, quanto de suínos. Este ano já está sendo diferente. O trigo se valorizou muito no mercado internacional, então está inviável economicamente destiná-lo para a produção de ração”.
Kerber acredita que 2022 é o momento mais desafiador. “Estamos, aqui no Rio Grande do Sul, com uma produção de milho bem menor do que nos dois anos anteriores, e já se projeta uma necessidade de aquisição em outros estados e mesmo em outros países, de cerca de 4 milhões de toneladas do grão”, admitiu. “Isso vai demandar um esforço do setor produtivo, especialmente de aves e suínos, de alocar recursos de mais de R$ 6 bilhões. A quantia será necessária para a compra do produto e para o pagamento da logística e do ICMS, quando se trata de aquisições em outras unidades da Federação. Felizmente sobre o produto importado, foi concedido o diferimento do ICMS na importação por parte do governo do Estado, via Sefaz”.
Kerber esclareceu que o fluxo de entrada de milho importado, tanto do Paraguai, quanto da Argentina, está intenso, mas enfrentando alguma dificuldade porque está em vigor uma operação padrão por parte da Receita Federal e por parte do Ministério da Agricultura. “O Mapa não tem técnicos suficientes para atender à demanda, o fluxo de veículos que estão entrando via terrestre por São Borja e Porto Xavier. Estão sendo feitas tratativas para a abertura do porto no município de Porto Mauá, mas, também, infelizmente, não há técnicos do Mapa para viabilizar o trânsito portuário. São, portanto, desafios enormes que o setor está enfrentando”.
Outro ponto abordado durante o encontro foram as ações do Pró-Milho/RS, apresentadas pela Seapdr e Emater/RS-Ascar. O assessor técnico da Câmara, Valdomiro Haas, falou que o programa, quando foi lançado, em 2020, priorizou as entidades parceiras. “Também foi muito importante pra fomentar o seguro rural, entre outras tantas ações desenvolvidas”, salientou. “Ampliamos e qualificamos o Programa Troca-Troca de Sementes de Milho e Sorgo, por exemplo. E graças ao Pró-Milho a gente conseguiu fazer mais ações internas com a Emater/RS-Ascar. Anualmente, ocorrem cerca de 20 mil assistências técnicas que a Empresa presta aos nossos produtores”.
O engenheiro agrônomo e extensionista rural da Emater/RS-Acar, Elder Dal Prá, apresentou as ações do programa na safra 2021/2022. Segundo ele, foram feitas 24 instalações e acompanhamentos de Unidades de Referência Tecnológica (URT) com cultivo de milho; avaliações de perdas na colheita de milho em 72 lavouras; ações de assistência técnica e rural e projetos em secagem e armazenagem de grãos em mais de 500 propriedades; entre outras atividades. “Mais de 21 mil produtores rurais foram beneficiados com nossas ações”, destacou Dal Prá. Ele citou ainda que a perda média de grãos nessa safra foi de 128,59 quilos por hectare, e que a frota de máquinas tem idade média de 18 anos.
O Programa Troca-Troca Sementes de Milho e Sorgo foi abordado por seu coordenador, o engenheiro agrônomo e chefe da Divisão de Sistemas Produtivos do Departamento de Agricultura Familiar e Agroindústria da Seapdr, Jonas Wesz. Ele apresentou dados da safra 2022/2023, que está em pleno andamento. Disse que ainda há tempo para que os agricultores façam as reservas de sementes até o próximo dia 17 para a safra e, de 20 a 24 de junho para a safrinha. Destacou a ampliação nas quantidades de saca por produtor, que passou de 4 para 6 sacas de sementes.
De acordo com Wesz, nessa safra, oito empresas oferecem 38 cultivares (12 de milho convencional, 19 de milho transgênico e sete de sorgo. “Até o momento, 425 entidades e 30 mil produtores fizeram o pedido de 86,8 mil sacas de sementes”, pontuou.
Por último, foi debatido o fomento e a pesquisa para milho em terras baixas. O engenheiro agrônomo do Irga, Cleiton Ramão, afirmou que o Instituto já vem pesquisando o milho em áreas de terras baixas há algum tempo. Nas estações distribuídas pelo Estado sempre havia algumas unidades demonstrativas, com o objetivo de mostrar para o produtor que era viável plantar a cultura. “Mas agora, com o passar dos anos, fomos acumulando informações sobre o milho e começamos a trabalhar com mais ênfase em todas as estações regionais e publicar algumas circulares técnicas sobre os dados coletados”, contou Ramão.
“Então, agregando a informação que tínhamos sobre a soja, fizemos adequações para o milho e ficou mais fácil conduzir essa cultura em ambientes de terras baixas. Já estamos prestando assistência a vários produtores. Verificamos que o milho é uma necessidade. E o produtor também percebeu essa necessidade de diversificar o cultivo para além da soja”.
Ramão afirmou que o Irga esse ano começou a direcionar o foco para a cultura do milho. “Vamos instalar em todas as regiões unidades demonstrativas e realizar dias de campo para levar outros agricultores a conhecer a cultura e incentivar essa nova possibilidade, de ter o milho rodando em um sistema produtivo dentro das propriedades”.
O pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Giovani Theisen, disse ser um entusiasta da questão da produção diversificada em terras baixas e mostrou alguns resultados das pesquisas da Embrapa e parceiros. “Aqui, em ambiente bem controlado, 50% das amostras que avaliamos nesta safra produziram acima de 198 sacas de milho por hectare. E produtores da região Sul do Estado apontaram uma produtividade de cerca de 170 sacas por hectare utilizando o sistema sulco-camalhão”.
Theisen pontuou que um dos problemas enfrentados hoje é ter agrônomos especializados em fazer a sistematização do solo para possibilitar a irrigação por sulcos. “Mas essa é uma dificuldade que pode ser superada, além do que o investimento inicial no sistema não é alto. Se o poder público puder subvencionar recursos, vamos alavancar a produção em terras baixas. As terras baixas aqui da região Sul do Estado têm um tremendo potencial. Temos mais de 1 milhão de hectares esperando serem cultivados”, afirmou.
Encaminhamentos
Representantes da Câmara ficaram de se reunir com a Sefaz para buscarem recursos subvencionados para a continuidade e ampliação do Pró-Milho e para alavancar a irrigação no Estado.
A Seapdr, junto com a Emater/RS-Ascar, o Irga, a Apromilho e a Embrapa, vai se reunir para começar a organizar a abertura da colheita do milho na zona Sul do Rio Grande do Sul. Segundo o diretor do Departamento de Políticas Agrícolas e Desenvolvimento Rural da Secretaria, Paulo Lipp, a data provável é 14 de julho.
Outro encaminhamento é o chamamento para que entidades façam os pedidos para o Programa Troca-Troca de Sementes, que podem ser feitos até 24 de junho.
“Tudo isso para minimizar a falta de milho que existe no mercado. E tendo mais produção de milho, teremos mais emprego e renda no campo, o que retornará em recursos para o Estado e para a sociedade”, concluiu o novo coordenador da Câmara, Paulo Vargas.