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Diagnóstico ajuda a proporcionar políticas públicas para comunidades quilombolas do Rio Grande do Sul

A previsão de divulgação dos resultados é em novembro deste ano, durante o mês da consciência negra

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Quilombo Iguatemi, em Canguçu. Foto: Fernando Dias/Seapdr
Por Darlene Silveira
Jerri
Jerri, do Quilombo Monjolo. Foto: Augusto Dantas

Jerri Eliano De Quevedo vive no Quilombo Monjolo, em São Lourenço do Sul, e conta que, desde 2004, a comunidade formada por 28 famílias desenvolve a produção orgânica. “É o nosso carro-chefe. E ela existe desde sempre aqui, porque quando meus pais produziam, eles não usavam produtos químicos”. Conforme Jerri, direcionar políticas públicas pra essa área vai beneficiar muito as comunidades. “Porque é uma das coisas que o povo quilombola sabe fazer: trabalhar com comida”. Para isso, está sendo elaborado o Diagnóstico das Comunidades Quilombolas Certificadas do Estado do Rio Grande do Sul, uma parceria entre a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr) e a Emater-RS/Ascar, que deve ficar pronto até novembro, mês da consciência negra.

O diretor do Departamento de Desenvolvimento Agrário, Pesqueiro, Aquícola, Indígenas e Quilombolas (DDAPA) da Secretaria, Mauricio Neuhaus, explica que o estudo é uma ação conjunta do DDAPA e do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA) da Secretaria com a Emater-RS/Ascar. “Ele é de extrema importância, pois vai mapear e apresentar, conforme os elementos técnicos que foram elaborados, as principais características e situações que ocorrem nas comunidades quilombolas do meio rural”, esclarece. “E servirá como base para a elaboração de políticas públicas e para entender o que ocorre nessas comunidades de uma maneira geral, sendo assim uma ferramenta importantíssima”.   

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Diagnóstico no Quilombo Torrão, em São Lourenço do Sul. Foto: Augusto Dantas

O objetivo, segundo a pesquisadora do DDPA Denise Reif Kroeff, que atua na área de sociologia e extensão rural da Seapdr, é fazer um diagnóstico social, econômico e produtivo das 134 comunidades de remanescentes de quilombos certificadas pela Fundação Cultural Palmares. “As informações são fornecidas por representantes das próprias comunidades, e vão proporcionar dados sistematizados para subsidiar a formulação e execução de políticas públicas voltadas a este público”.

Denise diz que a fase atual da pesquisa é a de campo. Os extensionistas da Emater que já trabalham com as comunidades estão reunindo os cerca de 600 quilombolas para fazer as entrevistas. Até o momento, foram feitos 122 diagnósticos. “Nos questionários, há demanda de informações sobre diversas áreas: se há escola, posto de saúde, água, estrada, acesso ao sinal da internet e celular nos quilombos”. Também é solicitado o detalhamento da produção agropecuária, quantas famílias e quais os produtos são produzidos, se há organizações produtivas, quais os principais canais de comercialização, entre outras questões.

“Uma particularidade dessa pesquisa é que estamos buscando informações também sobre os bens culturais, perguntamos sobre o patrimônio material e imaterial dessas comunidades, pedimos que levem fotos antigas, citem as principais festas, músicas, comidas típicas, artesanatos produzidos, visando conhecer melhor essa cultura, valorizar e dar visibilidade a ela”, destaca a socióloga.

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Quilombo Favela, em Canguçu. Foto: Fernando Dias/Seapdr

Denise afirma que já existe um retorno dos extensionistas. “Em algumas reuniões, os questionários suscitaram lembranças, surgiram histórias contadas pelos anciões que, segundo os mais novos, nunca haviam falado antes, e isso é muito interessante para a comunidade resgatar as suas raízes, pois sabemos que há um ‘apagamento’ da cultura negra devido ao racismo”.

Ela destaca ainda que há cerca de 20 anos foi feita uma pesquisa preliminar, quando ainda não havia muitos quilombos certificados. “Então vai ser importante, porque poderemos comparar os dados e avaliar o resultado das políticas que já foram executadas, o que pode gerar uma série de outras pesquisas e instrumentos”, espera. “Teremos a possibilidade de avaliar a formação de redes entre os quilombos e inclusive articular atividades de geração de renda entre eles e as comunidades próximas”.

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Quilombo Torrão, em São Lourenço do Sul. Foto: Augusto Dantas

Para a coordenadora de Assistência Técnica e Extensão Rural Social com Comunidades Tradicionais Quilombolas da Emater/RS-Ascar, Regina Miranda, o diagnóstico é uma atividade que tem uma grandeza. “A gente vai até se surpreender com a quantidade de jovens e idosos pra poder adequar e qualificar o nosso trabalho. A Emater vai conhecer melhor as aspirações dessas famílias, o que elas precisam, vai conhecer suas demandas pra cursos, suas maiores dificuldades. Tem tudo a ver com a nossa missão institucional”.

Regina acredita que essa ação é transformadora na medida em que as famílias quilombolas também vão se apropriar desses dados colhidos. “E de posse dessas informações, elas também possam ser porta-vozes de políticas públicas para aproximar esse diálogo entre secretarias de estado, extensão rural e comunidades quilombolas. Eu acho que isso é muito importante. Que essas comunidades tenham a posse desse conhecimento pra fazer a sua advocacia perante outros entes públicos”.

Sobre o Quilombo Monjolo

atrás, sede da comunidade
Atrás, sede da Comunidade Quilombola Monjolo. Foto: Augusto Dantas

Jerri De Quevedo é o primeiro secretário da Associação Comunitária Quilombola Monjolo. Ele planta hortifrutigranjeiros, feijão e vende em feira. “A gente teve um dia de diagnóstico, onde foram discutidos vários temas. Traz uma expectativa pra comunidade. São perguntas que vão ser encaminhadas pros órgãos competentes pra tentar alguma deliberação de políticas públicas direcionadas ao povo quilombola”, acredita.

De acordo com ele, a pesquisa é muito importante pra que todos saibam da real dificuldade que as comunidades vêm enfrentando em todas as linhas dentro do quilombo. “As perguntas foram elaboradas em cima da dificuldade da comunidade. São bem válidas por esse aspecto”.

Quevedo pontua que as comunidades quilombolas se integram bastante. “Uma vez por ano fazemos encontros com todas para que haja esse entrosamento, esse alinhamento de questões. As dificuldades são as mesmas, só muda o lugar”.

Sobre a produção orgânica, ele afirma que estão preocupados com uma coisa: com a vida, com a saúde. “O orgânico é isso e muito mais. Não existe coisa melhor que tu entrar numa horta, numa lavoura, poder colher teu fruto e sair comendo, sem a preocupação de não poder comer logo, por causa de alguma aplicação de fertilizantes”.

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Pesquisa Diagnóstico das comunidades quilombolas do Rio Grande do Sul

Entrevistas realizadas por Augusto Dantas. Crédito: Agricultura RS

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