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Agroindústria Embutidos Coloniais Mewius: da clandestinidade ao crescimento

Um exemplo de como ações de fiscalização podem ajudar no desenvolvimento de pequenos produtores

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A produção mensal da empresa é de 400 quilos de embutidos. Foto: Fernando Dias/Seapdr
Por Darlene Silveira

Uns desistem diante da primeira dificuldade enfrentada, outros crescem a partir dos problemas. Foi o que aconteceu com Marcos Mewius, proprietário da agroindústria Embutidos Coloniais Mewius, localizada no bairro Kaffeeck, em Picada Café. Em outubro de 2019, depois de ter trabalhado durante um ano na garagem de casa, fabricando seus produtos na clandestinidade, ele foi denunciado e teve cerca de 80 quilos de carne e embutidos apreendidos. A ação integrou a Força-Tarefa Segurança Alimentar, composta pela Polícia Civil, Ministério Público Estadual, Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr) e Vigilância Sanitária Estadual e Municipal. A partir daí, o agricultor familiar buscou, durante dois anos, a legalidade. E em novembro de 2021, sua empresa conquistou o certificado de registro no Serviço de Inspeção Municipal (SIM) e passou a ser a primeira agroindústria de embutidos de Picada Café inspecionada pelo Serviço.

“Esse é um exemplo de como ações de fiscalização associadas a políticas públicas de regularização podem ajudar no desenvolvimento de pequenos produtores”, avalia o médico veterinário da Inspetoria de Defesa Agropecuária de Nova Petrópolis da Seapdr, Danilo Cavalcanti Gomes. Ele tem um nome para a ação: “fiscalização pedagógica”.

“A legalização então, mais do que cumprir a regra, tem a função de dar uma oportunidade para a pessoa crescer com seu negócio. Pra que aquilo seja o seu ganha-pão”, explica Gomes. “É também dar a chance para outras pessoas terem acesso ao seu produto, e não só quem o conhece”.

prédio da agroindústria
A agroindústria possui 86 metros quadrados de área construída. Foto: Fernando Dias/Seapdr

Gomes informa que, no final de 2019, a Inspetoria da Seapdr de Nova Petrópolis realizou uma mesa-redonda para chamar a atenção sobre a importância da legalização e orientar os interessados. Foi abordado o tema “Legalização e comercialização de produtos de origem animal”, e técnicos falaram sobre o comércio desses produtos, entre outros assuntos relacionados. “E o Marcos estava lá. Acho isso admirável, depois de tudo o que aconteceu, ele ir lá e ainda erguer uma fábrica de embutidos. É de tirar o chapéu. Mostra sua persistência, que é um exemplo pro município e pra região. O caminho mais fácil é desistir, sentar e reclamar. Por isso, ele merece todo o sucesso”.

E como foi o caminho percorrido por Mewius? O agricultor foi à Prefeitura, que não tinha o SIM e que buscou então aderir a ele. Para isso, contrataram a médica veterinária Denise Maltoni, que ajudou a implantar o Serviço. “Eu iniciei a regularização das agroindústrias e dos açougues que estavam irregulares”, conta.

Segundo Denise, desde o início, Mewius já se mostrou interessado em se regularizar. “Aí ele montou a agroindústria com a finalidade de ampliar sua produção e conseguir vender para todo o território do Rio Grande do Sul, o que está prestes a acontecer”, acredita. “O município aderiu ao Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte (Susaf) em outubro de 2021, e a agroindústria já foi indicada. Penso que até o final do ano ele já vai ter o Susaf implantado e vai poder comercializar para todo o Estado. Antes, claro, ele precisa estar cadastrado no Programa Estadual de Agroindústria Familiar (Peaf), que é conduzido pela Seapdr. O que já está encaminhado também”.

Denise diz que Mewius motivou outras agroindústrias a seguirem o mesmo caminho. “Atualmente, há outras interessadas em se instalar em Picada Café. Três unidades já estão regulares com o SIM e tem mais quatro em andamento. A certificação do SIM proporciona mais valorização do produto e do produtor local e é a garantia de segurança alimentar para o consumidor”.

Outra instituição fundamental para a regularização da agroindústria foi a Emater/RS-Ascar. O engenheiro agrônomo e extensionista rural em Picada Café, Rafael Hoss, também foi procurado pelo produtor depois da ação do Ministério Público. “Ele foi alertado de que teria que fazer investimentos, mas que isso traria um retorno, porque abre outros mercados que, antes, ele não atingia, além de causar uma satisfação maior por estar legalizado”.

De acordo com Hoss, a Emater fez o acompanhamento do projeto da construção do prédio da agroindústria, a elaboração do projeto de crédito para o financiamento, a elaboração do projeto de crédito para energia fotovoltaica que ele vai usar no prédio e o encaminhamento da documentação para cadastramento no Peaf. “A partir da inclusão, ele poderá aderir ao Susaf e vender para todo o Rio Grande do Sul. Nós somos os facilitadores para o produtor”, pontua Hoss.

“Participar desse processo traz muita satisfação, porque, no dia a dia, não são sempre casos positivos que a gente enfrenta. E vendo sua evolução, com um sorriso no rosto por estar conseguindo chegar aonde ele gostaria faz muito bem pra gente também”, comenta o extensionista rural.

Hoss afirma que, agora, estão incentivando o agricultor familiar a participar da Expointer deste ano. “Não tem ninguém no município hoje, na área animal, apto a ir para a feira. Assim que ele conseguir a inclusão no Peaf, vai poder participar. Se ele for, vai representar o município e poderá acessar o mercado fora de Picada Café”, esclarece.

Sobre a fiscalização, que moveu a regularização do agricultor, Hoss acredita que ela tem que existir para garantir a qualidade dos produtos. “Mas, mesmo a questão fiscal precisa ter bom senso e ser mais de orientação no começo, e deixar a punição para depois. Seria uma fiscalização inclusiva”.

Embutidos Coloniais Mewius

“A mudança não foi fácil, tanto que levou dois anos. Foi um processo bem burocrático, pois envolve muitas pessoas e instituições. Mas, quando eu consegui me regularizar foi uma emoção muito grande”, diz Mewius com alegria. Ele afirma que a ação de apreensão de seus produtos foi bem impactante. “Foi um susto bem grande, quando levaram toda a carne bovina e suína que tínhamos”, relembra.

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O agricultor familiar faz o processamento de embutidos, a maior parte de suínos. Foto:Fernando Dias/Seapdr

Hoje, a área de construção da agroindústria tem 86 metros quadrados, onde o agricultor familiar faz o processamento de embutidos, a maior parte de suínos: linguiça mista (carne bovina e suína), linguiça suína e linguiça frescal suína (salsichão). Mewius adquire a carne desossada do Matadouro da Serra, em Nova Petrópolis. Por mês, a agroindústria produz 400 quilos de embutidos.

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O pai, Irineu, é a grande inspiração de Mewius. Foto: Fernando Dias/Seapdr

Mewius trabalha sozinho a maior parte do tempo, mas tem a ajuda da esposa e do pai, Irineu, de 74 anos, sua inspiração. Foi ele que começou a trabalhar com embutidos aos 18 anos. “Eu trabalhava num pequeno matadouro em Nova Petrópolis. Eu que ensinei o Marcos. Ele tinha uns 7, 8 anos, olhava e aprendia como fazer. “E hoje eu boto a mão na massa pra ajudar meu filho com sua agroindústria. Eu limpo as caixas de carnes. Tenho muito orgulho dele e da minha nora, que também ajuda bastante”, diz Irineu.                                     

“No começo, quando ainda era clandestino, eu vendia para o consumidor final e para a família. Não era uma grande produção. Era a forma que eu tinha para sustentar minha esposa, Cátia, e meus dois filhos, hoje com 10 e 8 anos”, conta Mewius.

O que mudou? “Agora, é bem melhor de trabalhar. Eu me sinto bem, porque a gente não precisa mais ter medo e pode trabalhar tranquilo. A produção e a clientela aumentaram. Atualmente produzimos cerca de 50% a mais do que antes. E posso vender pra mercados e restaurantes, além do consumidor final”, afirma o agricultor. “Hoje vendo para Picada Café, mas pretendo ampliar quando tiver o Susaf. Aí vou poder vender pra todo o Rio Grande do Sul”.

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O processo de defumação dos embutidos. Foto: Fernando Dias/Seapdr

O destaque da produção da Embutidos Coloniais Mewius é fazer tudo da forma mais colonial possível. “A gente amassa na mão, pra sentir o ponto da massa. E usa só alho in natura, não usa aditivo”, esclarece. Para o médico veterinário Gomes, esse é um dos diferenciais dos produtos de Mewius. “Usar o alho in natura, por exemplo, é uma coisa que a maioria das fábricas de embutidos não faz. Ele é um produtor artesanal legalizado. Ele conseguiu manter uma receita que é uma tradição familiar, mas estando registrado aqui no SIM. É um produto ímpar”, declara.

Sobre o Programa Estadual de Agroindústria Familiar (Peaf)

O chefe da Divisão de Agroindústria Familiar do Departamento de Agricultura Familiar e Agroindústria da Seapdr, Ricardo José Núncio, conta que o Peaf  “Selo Sabor Gaucho" foi criado como política pública que prioriza o desenvolvimento da agricultura familiar, estimula a diversificação do sistema produtivo e agrega valor de mercado aos produtos processados, tanto de origem vegetal quanto animal.

“A legalização pela inclusão no Peaf, além de oferecer aos consumidores um produto de qualidade através das boas práticas de fabricação,  oportunidade de linhas de crédito via Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento dos Pequenos Estabelecimentos Rurais (Feaper), amplia a participação nos mercados institucionais e nas feiras da agricultura familiar”, afirma Núncio. “No último quadrimestre foram regularizadas 41 agroindústrias. E a meta para 2022 é regularizar 150”.

 

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