Catálogo destaca presença quilombola no artesanato gaúcho
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O catálogo virtual “Presença Quilombola no Artesanato Gaúcho” foi lançado neste domingo (5) no estande 209 do Pavilhão da Agricultura Familiar, durante a 44ª Expointer, que ocorre até dia 12 no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio. A publicação, uma parceria entre a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (SEAPDR) e a Emater/RS-Ascar, é o acolhimento de uma demanda antiga de artesãos quilombolas do Rio Grande do Sul e tem o objetivo de dar visibilidade e possibilitar a comercialização de suas obras. A secretária da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural, Silvana Covatti, prestigiou o evento. O documento pode ser acessado aqui.
O catálogo tem como público-alvo os interessados em conhecer os saberes e fazeres quilombolas. Ele pode ser veiculado através de sites e mídias governamentais do Rio Grande do Sul, sites de feiras estaduais e locais, sites de prefeituras, compartilhamento em redes sociais, impressão gráfica. E também pode ser visualizado através de um QR Code.
“É fundamental divulgar esse trabalho maravilhoso e valorizar essas pessoas que fazem acontecer as coisas no Estado. Os quilombolas são muito importantes, porque são a história da vida do ser humano. E nós temos que ter um olhar muito especial. O momento exige isso de nós, que nós possamos nos integrar cada vez mais, unirmos as artes, os costumes, para sermos mais fortes. E aqui, destaco a importância que eles têm na sociedade gaúcha e brasileira”, disse a secretária Silvana.
Segundo a extensionista rural da Emater e coordenadora da Assistência Técnica e Rural dos Povos Tradicionais Quilombolas, Regina Miranda, a publicação é importante para mostrar o artesanato quilombola, que é muito rico, diversificado em todo o Rio Grande do Sul e também para comercialização. “O artesanato é uma das formas de geração de renda, de complementação de renda. Nesse primeiro momento, estão participando 11 artesãs, um artesão, e três grupos de mulheres quilombolas artesãs”, explicou Regina.
Ela contou que o forte do artesanato quilombola é usar matéria-prima do meio rural, como fibras, palhas, couro, cerâmica, lã de ovelha. “Esses materiais estão muito presentes no fazer artesanal quilombola. Mas é importante frisar que esse artesanato se atualiza, incorpora técnicas e novas matérias-primas, porque a estratégia quilombola é muito diversificada”, esclareceu Regina.
Para o diretor do Departamento de Desenvolvimento Agrário, Pesqueiro, Aquícola, Indígenas e Quilombolas (DDAPA) da SEAPDR, Maurício Neuhaus,o catálogo é extremamente importante, principalmente nesse momento de pandemia, com restrição de informação e de contato entre pessoas. “Através de uma plataforma digital, o público em geral pode ter acesso a esse rico material produzido por artesãos e artesãs quilombolas do Rio Grande do Sul. O material, além de contar a história deles, também divulga seus endereços. É um meio de facilitar o contato direto entre os artesãos e o público interessado em seus trabalhos. É uma alternativa de comercialização. E a ideia é que esse catálogo seja permanente e possa receber atualizações, agregando outros artesãos em novas edições e também aumentando a diversidade e disponibilidade do material divulgado”, esclareceu.
A artesã Marlise Borges, da comunidade quilombola da Linha Fão, do município de Arroio do Tigre, é uma das contempladas no catálogo. “Ele é muito importante porque divulga nosso trabalho. Nossa comunidade tá sendo muito representada. Tá sendo muito vista. Pra mim, isso é tudo”, disse com alegria.
Marlise conta que faz todo tipo de artesanato. “Mas, de uns tempos pra cá, eu tô fazendo sousplat, queé aquelesuporte para os pratos e fica na mesa durante toda a refeição; porta-panelas; chapéu de parede, pra decoração. Tudo 100% feito em palha, feito em casa”.
Conforme Marlise, o artesanato para ela vem de berço. “Está na minha vida há mais de vinte anos. Via minha mãe fazer cestos em palha de milho e mais tarde fui aprendendo a fazer vários artesanatos em palha. Há cerca de quatro anos, aprendi com a Tia Funé, nossa quilombola com mais idade, a técnica de costurar a palha e, desde então, tenho feito somente as peças com este trabalho. Tenho muitas encomendas, o ganho é bom, essa é a minha renda e é muito importante. Eu planto o milho, colho e retiro a palha para fazer as peças. Minha ferramenta para ajudar a puxar as palhas, eu mesma fiz com madeira e arame”, falou com orgulho.
Sobre as comunidades quilombolas
A existência das comunidades quilombolas remonta ao Período Colonial, antes da Abolição, configurando-se como uma das tantas expressões concretas de resistência. Apesar disso, seus direitos e definição foram consagrados somente em 1988, com a promulgação da Constituição Federal. Após, o texto foi regulamentado em Decreto Federal que conceitua comunidade de remanescentes de quilombos: consideram-se remanescentes das comunidades dos quilombos, para os fins deste decreto, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de autoatribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida.
O Rio Grande do Sul conta atualmente com 137 comunidades quilombolas certificadas pela Fundação Cultural Palmares, órgão do Ministério do Turismo, em sua maioria localizadas no meio rural. A maior concentração destas comunidades está na Metade Sul, Campanha e Zona Metropolitana do Rio Grande do Sul. Muitos dos quilombos rurais ocupam pequenas áreas. Os cultivos em geral bem diversificados são, principalmente, para o sustento próprio. As espécies vegetais mais presentes são: feijão, amendoim, abóbora, mandioca, batata, hortaliças e frutas, com destaque à diversificação de cultivares de um mesmo alimento, combinando com o cultivo uma diversidade de temperos e plantas medicinais e ritualísticas.